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O conteúdo expressivo das obras de arte não
se articula de maneira verbal através de palavras,
e sim de maneira formal, através de formas visuais,
sendo elas, as formas, as que se tomam
expressivas.
E
o que poderia ser essa maneira formal nas artes ?
A
palavra FORMAL nos oferece um significado de “configuração
(aspecto, figura), disposição de partes,
aspecto visível” e a forma de uma obra de
arte não é mais que a sua figura, a disposição
de partes, sua aparência visível.
A
Forma ela existe quando de imediato existe
uma figura qualquer que seja ela.
A Forma existe logo que, duas ou mais
partes, se juntam para constituir certa disposição.
Na
geometria por exemplo, estaríamos falando de qualquer
conjunto de linhas, pontos e superfícies. Mas é
claro que quando falamos
de forma em relação a uma obra de arte
deduz-se que essa forma é de certa maneira
especial, porque se trata de uma forma
que produz em nós certos efeitos.
Efeitos estes de emoção e sentimento e que
podemos sentir, por exemplo, nas linhas de um desenho.
Nas linhas podemos quase que ouvir a voz de alguém
que nos fala com um certo timbre e certa cadência
e que evidentemente vêem carregadas de emoção
e a emoção faz com que o artista se expresse
de uma maneira específica e não de outra.
No desenho 1, a esquerda, temos linhas
dinâmicas, traços frenéticos, linhas
desesperadas, agitadas, sentimento expresso também
na pintura 1, à direita, de intenso
movimento, revelando o espírito inquieto de seu
criador.
Pode-se perceber em ambas as obras, um clima meio dramático,
de alta tensão emotiva.
Ladjane - Desenho 2
Pássaro em pleno vôo - 1980 |
No desenho 2 (Pássaro em pleno
vôo) bem como na pintura
2, a esquerda, colorida, vemos que não
há movimentos bruscos no espaço.
Existe um movimento calculado. A linha é fluída
e leve.
No desenho do pássaro acima, vemos traços
longos, embora as linhas se detenham.
Há um movimento generoso, tanto no desenho como
na pintura, de uma linha horizontal que percorre o espaço
quase de margem a margem nos dando a sensação
de descanso e de relaxamento.
Vemos então o quanto a forma e o traço revelam
muito de um momento de um artista.
Inquieta e temperamental, rebelde, sóbria, profundamente
sensível, emocional, a artista Ladjane dizia que
pintura era sentimento e técnica, ou melhor, emoção
e razão.
Seu
espírito inquieto, investigador, racionalista e
altamente criativo marcou sua produção artística
a qual foi muito diversificada.
Ladjane desenhava, pintava e escrevia de acordo com o
ciclo de interesse que lhe acometia, pois como ela própria
dizia: 'Sou cíclica como todo mundo".
Com sua personalidade forte, combateu intensamente o seu
tempo, em especial, o direito à presença
feminina na sociedade, usando a pintura como
investigação e descoberta, como expressao
e afirmação, como experiência de libertação,
superação e evolução. Tudo
isso numa época escravocrata, patriarcal e decadente
do período modernista no Brasil.
Ladjane
foi uma artista de transição, da arte moderna
para a arte contemporânea, e por conseguinte o estudo
de sua biografia nos
fornece vários momentos dessa intersecção
entre os grandes fatos históricos e a sua trajetória
de vida.
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